segunda-feira, 21 de março de 2011

Servidão voluntária ou Renovação partidária

Pela Democracia no PV

Sempre que me perguntam ‘porque escrevo tanto’, tenho uma só resposta: escrevo para não espantar os devires.

Não escrevo para mim, ou para você que me lê neste momento, mas para desanuviar o pensamento e limpar o sentimento de qualquer forma de desânimo.

Tão logo terminou a reunião da ENPV – depois de cinco meses de desmarcação calculada com o propósito de esvaziar o nascimento do novo – pensei: novamente fomos dis/traídos em nossos sonhos; novamente vamos enfrentar o pesadelo do desatino político-partidário.

Depois que li o relato de Alfredo Sirkis, dei-me conta de que meus ‘Escritos da Espera’ – fragmentos intempestivos inoportunos - tinham de esperar um pouco mais para  se pintar o Brasil com as cores da diferença.

Os depoimentos ouvidos na reunião nacional foram estarrecedores. Na hora da votação, algumas tristes surpresas, de pessoas que jamais imaginaria que votariam em favor do fechamento em troca de “controles locais” ou “empreguismos políticos”.

Minha curta presença ou passagem no PV – digo passagem no sentido de sermos todos passageiros de algo maior que ‘qualquer um’ mesmo que sejamos ‘qualquer outro’ – dá sustento ao seguinte pensamento: melhor  seria  reunir os diferentes verdes num programa comum e que esse programa fosse incomum e diferenciado dos demais partidos instituídos no Brasil.

O pior é o que vimos: uma combinação de servidão voluntária da maioria a um esquema partidário de um senhorio medieval que recusa os procedimentos mais incipientes da democracia dita liberal ou democrática.

A servidão no Partido Verde combinada com a Tirania presidencialista apequenada  – lembrar que a justificativa dada para se realizar a reunião cinco meses depois das eleições foi – dito literalmente – “tudo no Brasil começa depois do carnaval” (Penna) - está instituída.

***

Felizmente, há um movimento em curso no PV, um movimento de mil vozes e milhões de sonhadores que clama e proclama por uma transição democrática radical (nas palavras de Eduardo Jorge), no partido. Parece pouco ou estranha a formulação “transição democrática” seguida pela palavra ‘radical’, inda mais vinda dessa pessoa tão admirável.  

E que a ‘reforma política’ deva ser, antes e também, a reforma da qualidade na política dos partidos. E mais: a qualidade na visão e na prática dos que assim pensam.

Faço parte deste movimento de qualidade na política antes mesmo de estar filiado no PV – assim como milhões de brasileiros que, de fora ou de dentro, acompanham as formações partidárias nos últimos 30 anos, e que sonham e lutam, por uma nova política no Brasil.

Esse desejo, essa vontade política ou ‘movimento de multidão’ de pessoas interessadas em participar, criar e instituir uma nova política – as vezes representadas ou expressas em suas minorias -, não caberia num só coração ou partido, num só agrupamento ou movimento, ainda que fosse a expressão de sua pluralidade ou multiplicidade.

Aqui somente a subtração desse múltiplo e desse poder plural se manifesta não numa simples somatório de interesses – ou votos – mas numa quantidade qualitativa subtraída do múltiplo que hospeda as partes participantes.

Mas um partido também é instituído com base ‘numa unificação’ ou ‘representação única’ que, em tese, deve se governar por seu estatuto (suas regras), seu manifesto (seus valores) e seu programa (suas ações políticas). Os associados devem preservar estes referentes instituídos e legalmente constituídos. Quando eventuais golpes e manobras conferem poder a alguns, de tal forma que riscam os ideais que lhe dão sustentabilidade e expressam nos seus estatutos, manifestos e programas, é legítimo da parte dos associados  resistir e lutar pelos valores da instituição.

A unificação que deveria ser programática e democrática, no entanto, tem sido emperrada pela pragmática personalista, com base na clientela e servidão oriundas de um sistema de cercanias distribuídas entre golpista e donatários nomeados e chamados “presidentes”. Temos resistido como podemos diante desses golpes de mestres da coisa feita em nossa instituição partidária.

Hoje, 18 de março de 2011, rigorosamente falando, não existem nenhuma direção estadual e municipal instituída no país e que possa responder com legitimidade pelo manifesto, estatuto e programa partidário. O esforço feito e liderado por fundadores do partido e filiados históricos do PV, juntamente com aqueles que estão no partido desde a vinda de Marina e de outros líderes dos mais diferentes setores da sociedade, no entanto, tem sido sistematicamente desmobilizado e desqualificado.

***

Ao mesmo tempo que faço parte desse ‘movimento de transição democrática’ no PV, estou entre aqueles que guardam um sentimento ‘disperso’ de que há pouquíssima chance de fazermos qualquer transição, democrática e radical sem que seja desfeito o modelo “presidencialista” e “territorial” de distribuição do poder partidário.

A incipiente qualidade da democracia praticada entre nós  – somos um partido sem instâncias, sem fóruns coletivos para tomada de decisão, sem ritos democráticos, sem vida participativa, sem alegria e, sobretudo, sem confiança mútua e pouquíssima capacidade de acolhimento dos novos e do novo - coincide com a reforma da política e o partido deve dar exemplo, como fizeram com a lei da ficha limpa.

Por fim, estamos distantes do sonho de uma democracia radical no PV – tal como se expressa na ideia de ‘partido-rede’ (Sérgio Xavier) pois implica/implicaria numa formação mais rizomática (horizontal) que arbórea (vertical); e essa ideia fica tão mais distante quando ignorada na proporção do sentimento de esvaziamento e de impotência que temos a cada reunião do partido verde instituído.

A proposta defendida pela ‘parte da maioria’ “prorrogar por dois anos” (Zé Carlos) a atual direção e/ou “até um ano” (Sarney Filho), como afinal foi aprovada por 29 a 16 votos na reunião de ontem (17/03/2011), tinha como contraponto, da parte da minoria, a proposta de se realizar a Convenção em Julho (Sirkis) ou em Setembro (Aspásia), precedida de Seminários, nacional e estaduais, por um Congresso de atualização programática e partidária e a Convenção nacional.

[Lembrar a todos que esses ‘compromissos’ foram pactuados para serem efetivados em 2010. Porém – e para podermos focar no projeto presidencial - ficou acordado na Coordenação Nacional e em reunião de Executiva Nacional deixar para logo depois das eleições (até abril de 2011) essas atualizações programáticas e estatutária).

Estava entre os que defendiam o mês de Setembro – um ano antes do prazo de filiação partidária – para que pudéssemos preparar o partido para as eleições municipais de 2012 e prosseguir o esforço da construção do projeto nacional do PV para  eleger Marina presidente em 2014 – como é o desejo político de milhões de brasileiros.

Prevaleceu a ‘política pragmática’ e golpista dos que querem o PV uma sigla para manter o atual regime de servidão, meio de emprego e clientela, detentores de espólios e poderes das cercanias territoriais desconjuntadas de um projeto nacional, jogando na vala comum da política brasileira o legado extraordinário conquistado nas eleições de 2010.

O fato é que perdemos todos com a decisão de prorrogar o mandato do atual presidente e demais dirigentes nacionais. Os que assim decidiram o fizeram em troca de um controle territorial  da sigla para que possa ser vendida a ser enobrecida, apequenada a ser fortalecida, rebaixada que elevada ao patamar de partidos verdes sintonizados com os desafios do século 21.

Escrevi uma vez mais para pensar com vocês e compartir deste sentimento que também é o de milhares de verdes brasileiros.

Escrevi  para conclamar uma intensa e ampla mobilização dos filiados nos municípios e estados para que a Convenção seja feita até Setembro de 2011, criando a oportunidade para crescermos em 2012, reorganizar o projeto partidário, eleger vereadores e prefeitos, e nos prepararmos para governar o Brasil em 2014.

E para que, na próxima reunião da Executiva Nacional, possamos estar mobilizados para definir uma data da Convenção – até Setembro de 2011 - que faça o PV crescer e não diminuir sua força e sua história. E que não reconheçamos nenhuma direção estadual ou municipal que não estejam comprometidas com os estatutos, o programa e manifesto político do PV, tão oportunamente lembrado por Sirkis:

“O Partido Verde se define como um movimento de cidadãos e não de políticos profissionais ou homens de aparelho. Considera que o povo brasileiro está descontente com a chamada "classe política" e almeja um tipo de representação e ação mais eficiente, desinteressada e moderna. O povo brasileiro está cansado de uma elite fisiológica, que vê na política não uma forma de representação das aspirações dos cidadãos, mas uma carreira profissional, um caminho de enriquecimento e poder individual”.


Postado por Jose Paulo Teixeira em 19 março 2011 às 12:00

http://redepv.ning.com/profiles/blogs/servidao-voluntaria-ou

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